terça-feira, 28 de julho de 2009

CUIDADO COM A CUCA QUE A CUCA TE PEGA!

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No dia da Avó, deixo uma homenagem para as minhas 2 nonas queridas...




domingo, 12 de julho de 2009

Sobre quando utilizar o pretérito-mais-que-perfeito

Ele chegou e pediu uma taça de vinho. Estava nervoso, bastante nervoso.
Ele sempre foi um cara de princípios; criado somente com a mãe e a irmã, aprendeu a valorizar as mulheres, e aprendeu que sinceridade é elemento fundamental em qualquer relação. Em verdade, a sua sinceridade era tão cortante que por vezes lhe trazia problemas, e a sua inocência também não ajudava. Chegou a mostrar à namorada, em tempos em que estavam ainda se conhecendo, as músicas que compora para a ex, as músicas que ele já não era capaz de compor para a nova, e foi sincero quando disse que as exibia porque tinha orgulho de suas criações, que, para si, já não eram mais a prova de uma paixão antiga, mas um pedaço de si em forma lírica. Mais tarde, ao ser encoleirado, teve que enclausurar as canções no esquecimento de uma caixinha verde no fundo do armário.
Ele sempre pensou, também, que fidelidade não significa, necessariamente, estar com uma pessoa só; significa simplesmente não fazer o que o outro espera que você não faça. No entanto, nunca teve mesmo qualquer intenção de se encontrar com outra enquanto já estava em relacionamento com uma. Ou melhor, nunca tivera, até um mês atrás.

A sua história com essa garota vinha de longa data. A conhecera em uma de suas viagens pelo país, há mais de três anos. E o problema de viajar pelo país é que as pessoas que você conhece moram longe. Tiveram, então, um rápido romance, que, após cada um retornar para sua casa, não suportou por muito tempo a distância. Ele soube, então, poucos meses depois, que ela havia encontrado um rapaz capaz de suprir a sua carência afetiva e de lhe acompanhar nas suas viagens tão frequentes; foram passar um tempo na Europa. Ainda assim, lhe foi difícil apagar a lembrança daquela menina, que despertara nele tantos sentimentos intensos, que transbordaram do seu peito em forma lírica (vide "canções", acima). Mais de ano se passou até que ele encontrasse outra que pudesse lhe trazer algum conforto, e, nesta outra, engatou-se na tentativa de reparar de vez seu coração ainda devastado. É esta que, ainda hoje, lhe estende a mão ao cafuné nos momentos de aflição, e que lhe faz amenizar a agonia do dia vivido neste mundo dolorido ao abraçá-lo calorosamente, todas as noites.
Bebeu outro gole de vinho, repassando mentalmente o que acontecera no último mês. Soube, através de um amigo em comum, que esta garota, sua ex, com a qual já não conversava há mais de dois anos, estava agora novamente solteira, e estaria na cidade em breve, visitando amigos. Soube ainda que ela estava novamente a caminho do velho continente, para onde iria pouco após sua visita, com a intenção de passar um ano. Ao ouvir a notícia, sentiu seu coração parar por um instante, para em seguida acelerar como nunca. Percebeu que todas as noites bem-dormidas ao lado da nova namorada não o fizeram esquecer o sentimento guardado pela antiga, e isto lhe afligiu.

Recorreu, então, à internet, esta mágica ferramenta capaz de aproximar dois indivíduos somente para fazê-los sofrer por não se poderem tocar, e tornou a conversar com a garota. Viu ali renascer o seu eu esquecido, viu que, com ela, ele voltava a ser o mesmo de antes, alguém de quem ele gostava mais do que seu eu de agora. Ele podia novamente compor canções e escrever poemas, ele tinha a habilidade de fazer os outros rirem. E os dois, então, trocaram galanteios, pois lembraram-se do tempo em que estavam juntos, e sentiram saudade.
A confusão fez casa na mente do pobre rapaz. Ele já não sabia o que sentia, o que queria. Um romance impossível, porém que lhe trazia à tona sua alegria escondida? Ou um romance fortalecido pelo tempo e que lhe trazia conforto? Ele queria ambos. Porém como desejar alguém que mora longe, e que pretende morar mais longe ainda, quando já se sabe o resultado da equação "garota + distância"? E como negar a si mesmo a oportunidade de libertar sua capacidade criativa através da alegria do reencontro de um grande amor?
"Era tudo tão mais fácil quando eu julgava não haver mais esperanças", pensou ele, com a taça já pelo fim. Finda a relação, há três anos, ele alimentava uma certa esperança de que seus caminhos se cruzassem novamente noutra oportunidade. Contudo, com o passar do tempo e a notícia do novo amor da garota, ele conformou-se com a história, para si mesmo inventada, de que havia sido trocado pelo outro, este sim, grande amor da vida dela, com quem se casaria, teria filhos e passaria o resto dos seus dias. Preferiu pensar assim, pois foi desta maneira que ele conseguiu seguir em frente e esquecer a dor. Agora, o seu mundo havia ruído, e os caminhos realmente se cruzaram novamente, porém não no momento adequado, e isto lhe trouxe a dúvida: valia a pena deixar de lado seus princípios mais enraizados em troca de um momento de explosão de felicidade, da busca de si mesmo?

Ela adentrou o restaurante, ele ficou estático. Mirou-lhe os olhos, o cabelo, o pescoço, o sorriso, e já não pensava mais com a razão, mas com a emoção. "Três anos. O tempo só lhe fez bem." Chamou o garçom: "mais duas taças, por favor". E deixou o barco correr, para ver onde ia dar.

_Cássio...