quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

A PENA DE FORREST GUMP




- Vó?
- Oi?
- Ontem eu vi de novo aquele filme que você gosta.
- Qual, minha querida? (como se não houvesse muitos filmes que a Vovó amava).
- Aquele daquele homem que é meio bobo e fica contando histórias no ponto de ônibus...
- Ah, sei ... Forrest Gump...
- Isso.
- E você gostou do filme?
- Gostei, mas não entendi uma coisa...
- O que?
- Quando começa o filme, tem uma pena voando, que voa, voa, e cai no colo do Forrest Gump. Ele guarda "ela"no livro e começa a contar a história para um monte de gente.
- Exato.
- Então, no final, ele abre o livro e ela sai voando outra vez. Para que serve essa pena, heim, Vovó?
- Bem, pituquinha, ele explica isso no final. Talvez você não tenha percebido.
- Acho que não.
- Forrest Gump não é uma pessoa igual às outras: ele tem uma inteligência limítrofe. Não fale que ele é meio bobo que isso é muito feio. Ele tem uma inteligência de uma criança de cinco anos, por isso tem dificuldade de entender as coisas como as outras pessoas. Ë um homem grande com a cabeça de uma criança, não é meio bobo ou retardado, tá bom?
- Tá.
- Você quer saber por que a pena começa o filme voando até pousar no colo do Forrest Gump, e depois sai voando de novo, não é?
- Isso.
- Então..., no final do filme, ele conta que na sua vida houve duas pessoas que o influenciaram muito: uma foi a sua mãe, o outro, seu amigo que ele conheceu na guerra do Vietnã, que é o tenente Dan. A mãe ensinou para ele que ter uma deficiência não é desculpa para desistir da
vida. Ela se recusou a colocá-lo em uma escola para deficientes, e sempre empurrou o filho para frente, sempre ensinou-o a não se conformar com as suas próprias limitações. Forrest foi para a escola, estudou, teve um problema na coluna que o obrigou a usar aquele aparelho horrível, você se lembra?
- Lembro sim.
- Tem uma cena que a Vovó gosta demais nesse filme, que é aquela em que os meninos valentões correm atrás dele numa caminhonete. Eles querem zoar com ele e até machucá-lo, e a sua amiguinha grita para o menino:"Corra, Forrest, corra !" E ele sai correndo, de aparelho e tudo, a caminhonete atrás dele, os meninos gritando..., à medida que ele corria, o aparelho vai caindo, pedaço por pedaço, e quanto mais ele se livrava do aparelho ortopédico, mais rápido ele conseguia correr, mais ele deslanchava, até entrar correndo em um campo gramado e sumir ao longe, deixando para trás os seus perseguidores...
- Vó?
- Oi?
- Você está chorando?
- Não, ..., não querida, é que a vovó esqueceu de pingar o colírio (falou isso enquanto enxugava furtivamente algumas lágrimas).
- Por que você gosta tanto dessa cena, Vovó?
- Porque Vovó acha essa cena muito emocionante, muito alegórica.
- Alê o que?
Riu-se, gostosamente.
- Alegórica. Quer dizer que ela tem um significado maior do que está na tela.
- Qual o significado?
- Na vida, a gente fica tentando endireitar tudo, minha querida, e às vezes temos que passar muito, muito medo para podermos nos livrar de nossos aparelhos, de nossas muletas. Forrest descobre que já está pronto, que pode correr como ninguém, como ninguém, e mais longe do que qualquer menino valentão e bobo que se acha grande coisa ...
Olhou para a neta, que a olhava fixamente.
- Desculpe, querida, acho que me empolguei um pouco.
- Vó?
- Oi?
- É para isso que temos medo?
- Acho que sim.
- Temos medo para tirar as muletas?
- E os aparelhos. E ir para frente.
- Legal. Vó?
- Fala.
- E a pena?
- É mesmo, já ía me esquecendo... então, eu falei que a mãe de Forrest Gump o ensinou a nunca sentar sobre seus problemas, a nunca se intimidar com as suas dificuldades. Ela ensinou para ele que, na vida, Deus dá uma série de cartas para a gente jogar o jogo, e temos que aproveitar as nossas cartas do melhor jeito possível.
- E a pena?
- Já vai, já vai... a outra pessoa importante na vida de Forrest Gump é seu amigo, tenente Dan. Juntos, eles foram para a guerra, tiveram um pesqueiro, montaram uma empresa e ficaram muito ricos. E o tenente Dan ensinou que na vida, a gente é como uma peninha levada pelo vento, de um lado para outro, e nunca tem como descobrir para onde vai o sopro de Deus..., nunca a gente sabe para que lado vai a pena.
Fez um silêncio grave.
- Como assim?
- Quando você crescer, vai perceber como nosso destino é caprichoso, meu bem. Um dia estamos aqui, outro dia estamos lá, como se tivesse um gozador assoprando a vida para lá e para cá, para lá e para cá. (Fez um movimento com a mão, simulando a pena indo e voltando. A menina acompanhou o movimento com os olhos).
- Quer dizer que a gente não sabe para onde vai essa pena ?
Trouxe-a para mais perto.
- A gente não sabe... mas sabe, quando a gente chega na idade que chegou a Vovó aqui, podemos perceber os caminhos misteriosos que a pena toma no ar, até pousar, segura, no colo de Deus. Mas isso a gente só descobre depois de passar muito tempo tentando adivinhar: Qual a direção do vento? Qual a umidade relativa do ar? Qual o peso da pena? Como o Caos vai comandar a direção que a pena vai tomar?
Coçou a cabeça, em seu gesto característico.
- Vó?
- Oi?
- O que acontece quando a gente pára de tentar adivinhar para onde vai essa pena?
- A gente se deixa levar pelo vento, minha querida.
- Quer dizer que você dá razão para a mãe e para o amigo do Forrest?
Olhou com uma agradável sensação de surpresa.
- Isso mesmo! Como você é esperta! Eu dou, mesmo, razão para os dois. A gente joga da melhor forma que puder, com o máximo de empenho, mas também respeita as linhas do vento. Gostou?
- Gostei, gostei muito... sabe, Vó, é tão bom ter você... será que um dia esse vento vai te levar para longe de mim?
Estremeceu ligeiramente.
- Não, meu bem... por mais longe que vão nossas penas, nosso coração vai estar sempre perto um do outro, tá bom?
- Tá bom.
Ficaram num silêncio de fim de conversa.
- Eu vou brincar um pouco, tá?
- Isso, vai brincar de Forrest Gump.
- Vou correr até cansar.
- Isso. Vai mesmo.
Mal conseguiu disfarçar a voz embargada de lágrimas.
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AUTOR : Marco Antonio Spinelli é médico psiquiatra e psicoterapeuta

sábado, 19 de setembro de 2009

Que livro é você?

Nas minhas noites insones pela net encontrei um teste que perguntava:

Que livro é você?

Fiz o teste com a expectativa de quem está buscando o sono que não chega...
Eis o resultado:

Carlos Drummond de Andrade




"Antologia poética", de Carlos Drummond de Andrade

"O primeiro amor passou / O segundo amor passou / O terceiro amor passou / Mas o coração continua". Estes versos tocam você, pois você também observa a vida poeticamente. E não são só os sentimentos que te inspiram. Pequenas experiências do cotidiano – aquela moça que passa correndo com o buquê de flores, o vizinho que cantarola ao buscar o jornal na porta – emocionam você. Seu olhar é doce, mas também perspicaz.
"Antologia poética" (1962), de Drummond, um dos nossos grandes poetas, também reúne essas qualidades. Seus poemas são singelos e sagazes ao mesmo tempo, provando que não é preciso ser duro para entender as sutilezas do cotidiano.


Se me identifiquei, não sei dizer...

E para todos curiosos de plantão: http://educarparacrescer.abril.uol.com.br/leitura/testes/livro-nacional.shtml?perg=10



quarta-feira, 16 de setembro de 2009

A vida é tão rara



















"...Enquanto todo mundo espera a cura do mal,
e a loucura finge que isso tudo é normal,
eu finjo ter paciência..."

_Lenine_

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Recordo Ainda


RECORDO AINDA

Recordo ainda... e nada mais me importa...
Aqueles dias de uma luz tão mansa
Que me deixavam, sempre, de lembrança,
Algum brinquedo novo à minha porta...

Mas veio um vento de Desesperança
Soprando cinzas pela noite morta!
E eu pendurei na galharia torta
Todos os meus brinquedos de criança...

Estrada afora após segui... Mas, aí,
Embora idade e senso eu aparente
Não vos iludais o velho que aqui vai:

Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino... acreditai!...
Que envelheceu, um dia, de repente!...

Mario Quintana

terça-feira, 28 de julho de 2009

CUIDADO COM A CUCA QUE A CUCA TE PEGA!

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No dia da Avó, deixo uma homenagem para as minhas 2 nonas queridas...




domingo, 12 de julho de 2009

Sobre quando utilizar o pretérito-mais-que-perfeito

Ele chegou e pediu uma taça de vinho. Estava nervoso, bastante nervoso.
Ele sempre foi um cara de princípios; criado somente com a mãe e a irmã, aprendeu a valorizar as mulheres, e aprendeu que sinceridade é elemento fundamental em qualquer relação. Em verdade, a sua sinceridade era tão cortante que por vezes lhe trazia problemas, e a sua inocência também não ajudava. Chegou a mostrar à namorada, em tempos em que estavam ainda se conhecendo, as músicas que compora para a ex, as músicas que ele já não era capaz de compor para a nova, e foi sincero quando disse que as exibia porque tinha orgulho de suas criações, que, para si, já não eram mais a prova de uma paixão antiga, mas um pedaço de si em forma lírica. Mais tarde, ao ser encoleirado, teve que enclausurar as canções no esquecimento de uma caixinha verde no fundo do armário.
Ele sempre pensou, também, que fidelidade não significa, necessariamente, estar com uma pessoa só; significa simplesmente não fazer o que o outro espera que você não faça. No entanto, nunca teve mesmo qualquer intenção de se encontrar com outra enquanto já estava em relacionamento com uma. Ou melhor, nunca tivera, até um mês atrás.

A sua história com essa garota vinha de longa data. A conhecera em uma de suas viagens pelo país, há mais de três anos. E o problema de viajar pelo país é que as pessoas que você conhece moram longe. Tiveram, então, um rápido romance, que, após cada um retornar para sua casa, não suportou por muito tempo a distância. Ele soube, então, poucos meses depois, que ela havia encontrado um rapaz capaz de suprir a sua carência afetiva e de lhe acompanhar nas suas viagens tão frequentes; foram passar um tempo na Europa. Ainda assim, lhe foi difícil apagar a lembrança daquela menina, que despertara nele tantos sentimentos intensos, que transbordaram do seu peito em forma lírica (vide "canções", acima). Mais de ano se passou até que ele encontrasse outra que pudesse lhe trazer algum conforto, e, nesta outra, engatou-se na tentativa de reparar de vez seu coração ainda devastado. É esta que, ainda hoje, lhe estende a mão ao cafuné nos momentos de aflição, e que lhe faz amenizar a agonia do dia vivido neste mundo dolorido ao abraçá-lo calorosamente, todas as noites.
Bebeu outro gole de vinho, repassando mentalmente o que acontecera no último mês. Soube, através de um amigo em comum, que esta garota, sua ex, com a qual já não conversava há mais de dois anos, estava agora novamente solteira, e estaria na cidade em breve, visitando amigos. Soube ainda que ela estava novamente a caminho do velho continente, para onde iria pouco após sua visita, com a intenção de passar um ano. Ao ouvir a notícia, sentiu seu coração parar por um instante, para em seguida acelerar como nunca. Percebeu que todas as noites bem-dormidas ao lado da nova namorada não o fizeram esquecer o sentimento guardado pela antiga, e isto lhe afligiu.

Recorreu, então, à internet, esta mágica ferramenta capaz de aproximar dois indivíduos somente para fazê-los sofrer por não se poderem tocar, e tornou a conversar com a garota. Viu ali renascer o seu eu esquecido, viu que, com ela, ele voltava a ser o mesmo de antes, alguém de quem ele gostava mais do que seu eu de agora. Ele podia novamente compor canções e escrever poemas, ele tinha a habilidade de fazer os outros rirem. E os dois, então, trocaram galanteios, pois lembraram-se do tempo em que estavam juntos, e sentiram saudade.
A confusão fez casa na mente do pobre rapaz. Ele já não sabia o que sentia, o que queria. Um romance impossível, porém que lhe trazia à tona sua alegria escondida? Ou um romance fortalecido pelo tempo e que lhe trazia conforto? Ele queria ambos. Porém como desejar alguém que mora longe, e que pretende morar mais longe ainda, quando já se sabe o resultado da equação "garota + distância"? E como negar a si mesmo a oportunidade de libertar sua capacidade criativa através da alegria do reencontro de um grande amor?
"Era tudo tão mais fácil quando eu julgava não haver mais esperanças", pensou ele, com a taça já pelo fim. Finda a relação, há três anos, ele alimentava uma certa esperança de que seus caminhos se cruzassem novamente noutra oportunidade. Contudo, com o passar do tempo e a notícia do novo amor da garota, ele conformou-se com a história, para si mesmo inventada, de que havia sido trocado pelo outro, este sim, grande amor da vida dela, com quem se casaria, teria filhos e passaria o resto dos seus dias. Preferiu pensar assim, pois foi desta maneira que ele conseguiu seguir em frente e esquecer a dor. Agora, o seu mundo havia ruído, e os caminhos realmente se cruzaram novamente, porém não no momento adequado, e isto lhe trouxe a dúvida: valia a pena deixar de lado seus princípios mais enraizados em troca de um momento de explosão de felicidade, da busca de si mesmo?

Ela adentrou o restaurante, ele ficou estático. Mirou-lhe os olhos, o cabelo, o pescoço, o sorriso, e já não pensava mais com a razão, mas com a emoção. "Três anos. O tempo só lhe fez bem." Chamou o garçom: "mais duas taças, por favor". E deixou o barco correr, para ver onde ia dar.

_Cássio...

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Frase do mês:

"Pode um pensamento ser verdadeiro, se destrói o pensador?"

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sábado, 16 de maio de 2009

Há quem refute...


"Não acreditem em nada só porque lhes foi dito. Não acreditem na tradição apenas porque foi passada de geração em geração. Não acreditem em nada só porque está escrito nos seus livros sagrados. Não acreditem em nada apenas por respeito à autoridade de seus mestres. Mas qualquer coisa que, depois do devido exame e análise, vocês achem que leva ao bem, ao benefício e ao bem-estar de todos os seres - nesta doutrina creiam e a tomem como guia."
Siddhartha Gautama, o Buda
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"Devemos investigar e aceitar os resultados. Se não resistem a estes testes, até as palavras de Buda devem ser rejeitadas!"
Tenzin Gyatso, 14º Dalai Lama, 1988

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Tristeza e Tinta Fresca

"Apagaram tudo,
pintaram tudo de cinza,
a palavra no muro
ficou coberta de tinta.
Apagaram tudo,
pintaram tudo de cinza,
só ficou no muro
tristeza e tinta fresca"

Sofro uma certa depreciação por ser das frases de grande efeito e não "verticalizar" o que escrevo, ou os trabalhos que tenho que fazer. Sou sintética e não sintática. Para mim, essas longas explicações são tão enfadonhas e chatas, não passam de textos prolixoverbosos... Aí (com as mãos na cabeça) me pergunto: o que faço eu na filosofia, santo deus??!!! Não sei!!! Só sei que meu estilo não tem esse ruído surdo e confuso. Por isso, aproprio-me de uma parte da música Gentileza da Marisa Monte e posto aqui, para expressar o que estou sentindo agora, sem delonga, afinal, não é nada mais do que tristeza e tinta fresca...

sexta-feira, 27 de março de 2009

Pensamento de uma vida...

- Mestre, como faço para me tornar um sábio?

- Boas escolhas .


- Mas como fazer boas escolhas?


- Experiência.


- E como adquirir experiência, mestre?


- Más escolhas.


...

sábado, 21 de março de 2009

A tristeza permitida, por Martha Medeiros

"Se eu disser pra você que hoje acordei triste, que foi difícil sair da cama, mesmo sabendo que o sol estava se exibindo lá fora e o céu convidava para a farra de viver, mesmo sabendo que havia muitas providências a tomar, acordei triste e tive preguiça de cumprir os rituais que normalmente faço sem nem prestar atenção no que estou sentindo, como tomar banho, colocar uma roupa, ir pro computador, sair para compras e reuniões – se eu disser que foi assim, o que você me diz?
Se eu lhe disser que hoje não foi um dia como os outros, que não encontrei energia nem para sentir culpa pela minha letargia, que hoje levantei devagar e tarde e que não tive vontade de nada, você vai reagir como?
Você vai dizer “te anima” e me recomendar um antidepressivo ou vai dizer que tem gente vivendo coisas muito mais graves do eu (mesmo desconhecendo a razão da minha tristeza), vai dizer para eu colocar uma roupa leve, ouvir uma música revigorante e voltar a ser aquela pessoa que sempre fui, velha de guerra.
Você vai fazer isso porque gosta de mim, mas também porque é mais um que não tolera a tristeza: nem a minha, nem a sua, nem a de ninguém. Tristeza é considerada uma anomalia do humor, uma doença contagiosa, que é melhor eliminar desde o primeiro sintoma. Não sorriu hoje? Medicamento. Sentiu vontade de chorar à toa? Gravíssimo, telefone já para o seu psiquiatra.
A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando fico triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alergia, é um registro da nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é estar deprimido.
Depressão é coisa muito mais séria, contínua e complexa. Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou com si mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente – as razões têm essa mania de serem discretas.
“Eu não sei o que meu corpo abriga/ nestas noites quentes de verão/ e não importa que mil raios partam/ qualquer sentido vago de razão/ eu ando tão down ...”. Lembra da música? Cazuza ainda dizia lá no meio dos versos, que pega mal sofrer. Pois é, pega. Melhor sair pra balada, melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem, melhor desamarrar a cara. Não quero te ver triste assim”, sussurrava Roberto Carlos em meio a outra música. Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e sim para disfarçá-la, sufocá-la, ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar o seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem esta calado demais. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinicius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus abaixo da euforia.
Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop, e nem por isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar. Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor – até que venha a próxima, normais que somos."


sexta-feira, 6 de março de 2009

Ano de Darwin

Vasculando uns blogs por aí, me deparo com esta notícia:

"“Evolution ist überall!”, brada um grupo alemão que quer instituir neste Ano de Darwin uma data comemorativa oficial celebrando o fato de sermos todos “filhos da evolução”. Seria o "Evolutionstag", que substituiria a Ascenção de Cristo como um feriado nacional secular."


E pra promover a petição online, criaram este vídeo com Charles Darwin cantando "We are Children of Evolution”. Vale a pena assistir... rsrs

Pra quem saca alemão, vai o site aí http://www.darwin-jahr.de/e-day




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um selo, uma corrente bloguiriana...

Recebi dois selos!!! (por essa eu não esperava...)

Como diz o locutor da rádio cidade: Suuuuuceeessooooo... ahahahaha

Agradeço ao Marcos do Filosofia Menor e ao Marco do Alvor desnudo
pela lembrança e gentileza.

Passo agora essa corrente para os blogs que gosto muito:


Conteúdo Nucleico Fragmentado (Uma taça que transborda por todos os lados)

Caio Fernando Abreu (Sem amor, só a loucura)

CC&VC (Maior Cassio Rugeri Cons de todos os tempos)



quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Como funcionam nossas Sextas-Bar

Caso existam curiosos que queiram saber mais do que acontece nas nossas famosas e "filosóficas" Sextas-Bar, aqui vai uma palhinha...



E este é o futuro da nossa filosofia!

Em homenagem à galera que nunca falha: Rafa, Beat, Marcão, Dom, Pernê, Conrado, Cruj, Thiago, Ju Fagundes, Ju Meireles, Mary Jane, Fabi, Thelma, Karina e é claro, eu! =D


PS: Hey, esse ano tá fraco, vamos nos puxar!!!!!

Tirinha do dia:

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Eu que sou feio, sólido, leal

Eu que sou feio, sólido, leal

_Cesário Verde_


Eu que sou feio, sólido, leal,
A ti, que és bela, frágil, assustada,
Quero estimar-te, sempre, recatada
Numa existência honesta, de cristal.

Sentado à mesa de um café devasso,
Ao avistar-te, há pouco fraca e loura,
Nesta babel tão velha e corruptora,
Tive tenções de oferecer-te o braço.

E, quando socorrestes um miserável,
Eu, que bebia cálices de absinto,
Mandei ir a garrafa, porque sinto
Que me tornas prestante, bom, saudável.

«Ela aí vem!» disse eu para os demais;
E pus me a olhar, vexado e suspirando,
O teu corpo que pulsa, alegre e brando,
Na frescura dos linhos matinais.

Via-te pela porta envidraçada;
E invejava, - talvez que não o suspeites! -
Esse vestido simples, sem enfeites,
Nessa cintura tenra, imaculada.
...

Soberbo dia! Impunha-me respeito
A limpidez do teu semblante grego;
E uma família, um ninho de sossego,
Desejava beijar o teu peito.

Com elegância e sem ostentação,
Atravessavas branca, esbelta e fina,
Uma chusma de padres de batina,
E de altos funcionários da nação.

«Mas se a atropela o povo turbulento!
Se fosse, por acaso, ali pisada!»
De repente, parastes embaraçada
Ao pé de um numeroso ajuntamento,

E eu, que urdia estes frágeis esbocetos,
Julguei ver, com a vista de poeta,
Um pombinha tímida e quieta
Num bando ameaçador de corvos pretos.

E foi, então que eu, homem varonil,
Quis dedicar-te a minha pobre vida,
A ti, que és ténue, dócil, recolhida,
Eu, que sou hábil, prático, viril.
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domingo, 1 de fevereiro de 2009

o silêncio

Frase do Dia:

"No silêncio da alma
encontramos o nada.
Um vazio que traz a solitude,
o completar pleno em si.
Finalmente a paz..."

_Lakka Fagundes_

...

sábado, 17 de janeiro de 2009

Um Koan para mim e para ti

Sobre Koans... posto um que irá me ajudar durante estes longos dias longe...

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O Agora

Um guerreiro japonês foi capturado pelos seus inimigos e jogado na prisão. Naquela noite ele sentiu-se incapaz de dormir pois sabia que no dia seguinte ele iria ser interrogado, torturado e executado. Então as palavras de seu mestre Zen surgiram em sua mente:
"O 'amanhã' não é real. É uma ilusão. A única realidade é 'AGORA'. O verdadeiro sofrimento é viver ignorando este Dharma."
Em meio ao seu terror, subitamente compreendeu o sentido destas palavras, ficou em paz e dormiu tranquilamente.



E para completar...


Quando cansado...

Um estudante perguntou a Joshu, "Mestre, o que é Satori?"
O mestre replicou: "Quando estiver com fome, coma. Quando estiver cansado, durma."

...

domingo, 11 de janeiro de 2009

Um coração aberto

Um coração aberto é um fenômeno natural; um ser aberto é simplesmente natural. Um ser fechado é muito antinatural, muito artificial; você tem que colocar toda a sua energia nisso. Essa é a minha observação em milhares de pessoas: elas dão toda a sua energia para se manterem miseráveis. Permanecer no inferno é um grande investimento. Não é fácil, é muito difícil. Você precisa ser muito forte para estar no inferno, muito teimoso, decidido. (...) Você tem que ser duro como um diamante, somente então você pode permanecer no inferno. Se não for assim... ninguém está impedindo o seu caminho. Basta relaxar e você entra no céu, o relaxamento é a porta.

_Osho_

sábado, 10 de janeiro de 2009

A Pernalta Peralta (momento cultural)



Você já ouviu falar da safada Jaçanã-fêmea????

Pois essa libidinosa ave vive a vida de uma forma deveras lasciva.

Como assim??? SIM!!! (Note que ainda estou impressionada)

Ela dedica a vida ao sexo!

Tem uma vida que é invejada por muitas mulheres que conheço, e algumas, até vão se identificar rsrs...Porque além de ser esbelta, de corpo muito leve, pernas altas e dedos delicados, tendo um porte maior do que o do macho (159g contra 69g) ela MANDA no tadinho, que é obrigado a criar o ninho, chocar os ovos e cuidar dos filhotes enquanto a devassa sai por aí copulando com os vizinhos. Na cara dura, chega a ter 4 parceiros por dia! E o machinho, querido, tudo vê e tranquilo fica, zelando os seus na boa...

A vida dela foi feita para botar ovos e transar com geral!!!!!!

E o melhor!!!! Os vizinhos não fofocam, não comentam, não debocham. Na verdade, nem se importam, nem a famíla julga, é uma libertinagem na mais santa paz.

Agora é sério, meu querido, amado, fofíssimo, majestoso, grandioso, salve-salve, talentosíssimo Deus, na próxima vida eu quero vir de jaçanã-fêmea, por favooooor!

ahahaha

Carlos Drummond de Andrade

Receita de ano novo


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)


Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.


Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Namastê
...